quinta-feira, 13 de junho de 2024

10&11 de Junho 

Comeco retormando o fim de tarde de sabado. Apos uma hora de escrita fluida enquanto meu filho assistia desenho, resolvi levar ele pra rua. Certamente iriamos passar do horario de dormir da crianca, mas tudo bem. Precisavamos reenegizar por aqui. Sair de casa e por o pe na grama e um dos meus atos de gentileza comigo mesma que estabeleci por aqui. Sentir a terra, estar presente. respirar.

Levei meu filho pra um park prox de casa e resolvi deixar o celular em casa. Nunca faco isso por motivos de seguranca mesmo. Mas precisava achar um balanco sobre isso tb. Quem sabe eu precise de um telefone antigo? Desses que so servem pra ligacoes mesmo.
Saber quando desconectar-se eh preciso.
Enquanto ele brincava nos brinquedos do parquinho, eu sentei na grama sem sapato e ali fiquei por aprox meia hora/40 min.
Eu preciso fazer isso mais vezes, principalmente em dias esquisitos assim.
L. Chegou la em casa por volta de 21:15. Sai do quarto quase uma hora depois, apos por meu filho na cama e ter cochilado junto com ele novamente. L. Trouxe cerveja e curtimos a resto da noite vendo um capitulo de um seriado que assistimos juntas.
O fim do dia compensou.
Na manha seguinte foi tudo mais fluido. Acordamos os 3 com calma, passamos na L ainda pela manha. Eu me sentia um pouco mais energizada - deve ter sido pelo cochilo enorme da tarde do dia anterior - Mas estava me sentindo bem. Onde a L mora tem uma academia - ela tem conseguido ir todos os dias, e eu vivo tentando retormar esse habito. Pois bem, nessa manha estava disposta a recomecar o processo pela sei la quinta vez. Olhei minha serie antiga de exercicios e L ficou com Ben durante 1 hora para eu malhar. Consegui finalizar a serie inteira, me senti muito orgulhosa - apesar de estar um pouco preocupada te deixar L olhando o menino. Sera que ele estava se comportando com ela? Sera que ela realmente esta de boa em ficar com ele enquanto eu corro atras de mim mesma? Enfim. Quando cheguei na academia, Lucia estava finalizando o almoco, o pequeno vendo tv e eu tomei um banho bem longo, lavando a cabeca, desses que nao tomo ha muito tempo. Quando acabei de almocar, me senti plena. Como se varios hormonios estivessem voltado pro lugar. Depois partimos pra nossa programacao, fomos ao Museu de historia e ciencia e ao planetario. Depois lanchamos numa padaria mexicana proximo ao local. Benicio amou tudo - apesar de eu ter que chamar a atencao dele varias vezes. Faz parte. Foi um programa em "familia" e me senti bem no fim do dia quando retornamos.
Apos chegar na L. Fomos pra uma area verde que ha um parquinho do lado da casa dela. Ate o cachorro foi, mas como ele estava latindo demais pras criancas, L levou ele de volta pra casa e nao retornou. Enquanto isso eu olhava Ben nos brinquedos e falava com minha mae por video.

Ficamos mais uns 30 min por la quando precisamos voltar pra casa dela pois meu filho tinha brincado na agua e estava com frio. Quando retornamos, L estava na rede da varanda com um livro no colo - mas acho que nem tinha comecado a ler - pq ela mexia no celular.

Minha ideia era dar banho no Ben la, comer e ir pra casa, ja que eu me programei pra adiantar umas marmitas para a semana seguinte ainda aquele fim de domingo. E como moro prox do meu trabalho, a rotina fica muito mais leve quando amanhecemos a segunda na nossa propria casa. Senao, fica meio atordoado pela manha na casa dela e ela ainda tem que levar a gente de carro pro trabalho/creche.

Chegando em casa a rotina da noite de sempre. cria dormindo, comida pronta, cozinha semi limpa.

me preparando pra dormir, enviei uma msg dizendo "Boa noite coisa linda da minha life" (ou algo do tipo). Eis que ela responde: "Sei la se sou mesmo..." 
"to me sentindo um pouco usada"
"Minha ausencia nas suas redes sociais me passa uma ideia de vc me esconder"
"e fico triste em lembrar que vc pediu pra eu apagar a foto do Ben e do Jerry do meu Instagram".
"As vezes acho que me doo muito, so vou precisar nivelar um pouco pra passar essa impressao"

Essas mensagens cairam na minha cabeca como pedras vindo de uma direcao desconhecida. Tivemos um dia bom. As coisas que ela mencionou extrapolam os meus limites pessoais. Nos vivemos uma relacao de altos e baixos, apesar de pouco tempo e por ter me divorciado ha 8 meses, ainda nao me sinto confortavel nos expondo muito pois muito dos meus amigos tb sao amigos em comum com meu ex parceiro. Meu ex parceiro sabe da L. Entao nao ligo que ele veja fotos nossas ou alguem mande pra ele, so nao me sinto confortavel mesmo. Mas ja postei algumas vezes momentos eu e ela, nos em Cuba, nos na celebracao da semana do orgulho gay etc, posto pra "close friends", uma lista de amigos de aprox 40 pessoas. Escutar que ela esteja se sentindo usada me machucou demais, em que sentido? E como assim to tentando esconder ela? Quando comecamos a nos relacionar, eu me abri com a minha mae, disse pra ela da minha orientacao sexual, comentei da minha adolescencia, etc. Ate entao eu era vista como hetesexual, casada e morando fora feliz com um filho. Mas depois que minha mae passou um tempo aqui e presenciou o estado da minha saude mental de perto, eu tinha certeza que minha mae iria apoiar minhas escolhas mesmo tendo feito escolhas radicais como sair de casa tendo um filho pequeno, estudando e me envolvendo com uma mulher. Eu me sentia e me sinto (na maioria das vezes) feliz e tinha comecado a ver muita melhora na minha saude mental. O colorido da minha vida estava voltando, os planos pro futuro tambem. E depois que eu dissesse isso pra minha mae, eu tinha certeza que ela me daria suporte. E assim o foi.

Quando eu saio nas ruas por aqui com ela, andamos de maos dadas, demostro afeto beijando, abracando em bares ou em qualquer outro lugar publico. Entao, de quem exatamente eu to querendo me esconder, de acordo  com ela? Isso nao seria uma inseguranca partindo dela? Alias, ela sabe que luto diariamente contra crises de ansiedade, por que me por nesse lugar de questionamentos turvos atraves de whatsapp? Ja pedi diversas vezes pra ela conversar comigo pessoalmente quando algo estiver angustiando ela. Entao acho que ha uma falta de consideracao tambem com o meu processo de cura. Alias, ela tem sido muitas vezes o gatilho das ultimas crises. 

Sobre a foto do meu filho nas redes dela, eu pedi que ela deletasse pois primeiro que ela nao tinha me pedido permissao e segundo que estavamos numa situacao de quase-termino de relacionamento ou pelo menos MUITO conflituoso. Entao resolvi proteger a imagem do meu filho nao expondo ela em numa rede que nao seja minha ou do pai. Ponto. Acho que nao deveria nem entrar em questao discutir essa assunto. Ela dizer que se sente TRISTE por que eu impus esse limite em relacao a imagem do MEU filho, nao faz sentido nenhum pra mim. Pois bem, minutos depois das mensagens anteriores dela, chequei as redes dela e a unica foto que tinhamos juntas foi apagada. Entao retomando: a foto foi apagada num dia/semana em que aparentemente tava  tudo indo bem. Sera que eh isso que ela considera como nivelar um pouco? Ela dizer que se doa muito e que precisa nivelar, me diz entao que nao estou me doando o suficiente? Nao vejo outra intencao por tras dessa frase.


***********************    *****    ****************************

13 de Junho

Sentei na frente do computador pra escrever e terminar esse episodio mas 15 minutos passaram e nada saiu. Muitos dialogos, mensagens, pensamentos de todos os tipo aconteceram. Nao soube por onde comecar, mas cai na mesma coisa de sempre.... Eu e minha parceira nos desentendemos. geralmente ela me ataca, eu ataco de volta, ficamos afastadas por uns dias processando o que aconteceu. Eu penso que ja chega - e sempre deixo isso claro pra ela. Eu busco conversar com amigos. a gente se encontra. conversa e se entende.

Lembro que um dia ela tinha sugerido terapia de casal. Pegou indicacao com uma amiga que disse que mudou muito o relacionamento dela, que melhorou a comunicacao e tudo ficou mais fluido. Entao eis que viro a chave outra vez e retomo essa conversa. Decidimos pela terapia. 

Cheguei do trabalho e mesmo com tudo desarrumado, pia suja e roupa por dobrar, larguei tudo e chamei ela pra jantar comida japonesa. Percebi que as vezes na mesa ela abaixava a cabeca e limpava umas lagrimas. Conversamos apos o jantar.

Lucia e muito mais insegura do que eu pensava. Eu nunca tinha visto ela assim.
Nao sei, mas tem algo de especial que acontece quando a gente deixa transparecer nossas vulnerabilidades, quando a gente compartilha com o outro. 

Sei la, sabe?

Hoje nao to com muitas palavras. 





sábado, 8 de junho de 2024

7 anos depois

 Escrevo apressadamente. Apesar de uma das minhas prioridades esse ano é desacelerar. Será que to confundindo desejo profundo com prioridade? Estou tentando me equilibrar nessa linha tenue que é querer algo e realmente fazer algo acontecer. 

Vou desacelerar a escrita.
Breath in breath out

Sentei aqui pra escrever sobre meu gatilho de hoje afim de solidifica-lo e analisa-lo depois. Minha memoria anda curta demais. Talvez eu tenha que comecar a focar em alimentos que sejam bons pra memoria. Exercicios para o corpo e para a memoria. fumar menos erva na semana. To rindo aqui pq e impressionante como eu aparento saber o que fazer mas nunca inicio o processo. 

Sobre a erva, eu fumo ha muitos anos, desde os 20 anos mais ou menos. No canada a cannabis e legalizada e depois de quase 3 anos sem fumar por conta da gravidez e amamentacao, retornei para esse habito, que e meu bem e tambem meu mal. Meu bem porque e inegavel que me relaxa, me deixa dormir melhor, que deixa leve, principalmente no meio de uma crise onde nada parece mais fazer sentido. A erva cessa minha dor e minhas lagrimas. Meu mal pq o dia seguinte e sempre de trabalho pela manha. Como meu corpo ainda ta relaxado por conta da substancia e do fato de eu ter ido mais uma vez dormir depois do horario que deveria, nao consigo acordar no horario planejado pela manha. Estou sempre atrasada para meus afazeres. Para meus compromissos. Para a hora marcada de sair. Os dias entao geralmente tem comecado com cafe preto e barriga vazia, passos rapidos na rua e suor. Quando nao consigo chegar no horario exato me sinto uma profissional desisteressada. Tudo vira uma bola de neve. A erva tambem me faz comer desesperadamente. Eu ja me auto-desafiei nessa tentativa e sempre falho. Talvez seja isso mesmo que ocorra quando o assunto e vicio. Essa palavra me assusta um pouco mas o fato de eu nao conseguir parar me faz me interrogar tambem o controle que a erva tem em mim. Muitas vezes, la pelas 21:30 jurei que ia fumar um pouco so pra dar aquela relaxada rotineira e dormir de imadiato. Sempre sempre sempre me pego acordada 2 horas depois indo dormir mastigando doce e sem escovar os dentes.

pra manha melhorar. a noite precisa se ajeitar. os habitos tambem. Tenho uma tabela nova de rotina e afazeres que fiz uns dias atras. Acho que vou acrescentar nela os dias que eu posso me dar o prazer de fumar meu beck e os dias que preciso forcar meu cerebro a focar em outra coisa. Por as prioridades nos trilhos. Eu sempre fui muito centrada e persistente com meus objetivos. Me frustra me dar conta de que nem os objetivos do dia a dia to conseguindo manejar. Eu comeco ajeitando aqui e o outro lado ja entorta. Entorta tanto que quebro muitas vezes. talvez a vida seja mesmo essa coisa envergada. Como se vive o enverga mas nao quebra?

De onde tiramos o estimulo, a motivacao que faz um ato ser prioridade? Nao sei. Estou sempre a procura. E sinto que tem algum buraco que preciso tapar ou alguma coisa para consertar para que a rotina flua de maneira mais gentil comigo mesma.

Essa semana estou cuidando do meu filho. Desde quarta. Os dias sao naturalmente mais exaustantes quando estou com ele. Essa semana, apesar de eu ter conseguido fazer algumas coisas como planejado, aind sinto que meu estado fisico e mental estao com pouca bateria para lidar comigo mesma e de uma crianca de 3 anos. 

Tive umas 5 horas e meia de sono dois dias seguidos. Mesmo sendo sabado, meu filho acorda as 6:15 am. Ele nao tem culpa. Eu PRECISO estar preparada pra comecar um dia bem com ele. Com energia, com planos. Muitas vezes temos planos, mas nem sempre estou bem para os proprios planos.

Hoje L. e o cachorro dela dormiram aqui em casa. As 6:00 meu filho pulou em nossa cama e as 6:30 acordou. Acordamos de vagar e tomamos cafe juntos na mesa, apesar da crianca levantar a cada 2 min e comeu so a melancia. daqui ha 30 min ta com fome. Esse fato eh bem pequeno mas ja fica ali incomodando minha cabeca. Sempre quando to com a L e o Ben ao mesmo tempo me sinto atordoada de alguma forma. Nao sei explicar. Ele anda muito emocional esses dias e junta com o fato dele agir de forma diferente quando esta na presenca de outras pessoas. Que ficar em cima da gente, nao deixa conversarmos direito, contraria qualquer comando, chora com mais frequencia. Ele sempre teve um comportamente meio desafiador, cansa chamar a atencao de uma crianca toda hora. Fora que todos os meus gatilhos em relacao a isso vindos no meu casamento anterior parecem vir a toda. Meu ex parceiro chamava e chama ainda muito atencao do nosso filho. 

Enfim, hoje as 7:50 senti que minha bateria ja tinha descarregado bastante. Ja fiquei apreensiva. Depois de muito movimento em casa ainda pela manha resolvemos sair pro mercado, na rua ele segurou a coleira do cachorro. O cachorro correu, Ben caiu e arrastou o joelho no concreto. Ficou um ralado muito grande. Meu filho chorou por minutos a fio. Subi com ele no colo chorando e tentei limpar a sujeira por cima do sangue. Ele nao deixou eu limpar, so chorava e gritava. Minha parceira ficou no carro com o cachorro me aguardando. Tentei tb por uma solucao salina pra lavar o machucado e por band-aid mas ele nao deixava eu tocar de jeito nenhum. Em 5 min dentro de casa mandei mensagem pra L dizendo pra ela seguir ao mercado sozinha (e de la ela iria embora). Na mensagem eu disse que ele tava chorando muito e que eu ja tava um pouco atordoada pra sair.

Talvez eu devesse esperar mais a crianca se acalmar, dar abraco, ninar, conversar e so depois tentar tocar o machucado. Eu o desrespeitei quando nao entendi o tempo dele se acalmar e toquei sem consentimento tentando limpar o machucado. Onde minha cabeca estava? Acho que aqui que entra os gatilhos. Talvez eu estivesse ja com a bateria drenada das duas noites anteriores. Talvez o fato da L estar no carro com o cachorro esperando por nos me deixou com uma certa apreensao, quando eu nem estava mais com vontade de sair de casa. Talvez eu tenha ficado chateada que meu filho ficou com um machucado gigante do joelho, que vai ficar uma cicatriz. Esse fato tambem impediria ele de andar de bike hoje, que era o programa planejado pro resto da manha ou fim da tarde. 

Quando minha cabeca comecou a desligar todas as luzes dp meu corpo, L. entrou pela porta. Viu a crianca assistindo tv pra distrair do machucado e eu catatonica sentada do lado dele. Como se eu ja tivesse tido demais pra um dia.

Fui pro quarto deitar. Me cobri e fechei os olhos. Chorei um pouco.
Do quarto eu escutei L conversando com o Ben e gentilmente tentando limpar o machucado dele. Depois de uns minutos ela foi me ver no quarto, deitou ao meu lado. Perguntou se eu queria que ela trouxesse alguma outra coisa da farmacia pra cuidar do machucado dele. Ela deitou do meu lado e me abracou de conchinha. Eu disse a ela que tava muito cansada. Mas no fundo sabia que era um acumulo de muitos fatores. Ela perguntou se eu queria desistir do mercado e que estaria tudo bem. Eu pedi mais 5 min para que eu respirasse mais e tentasse me reestabelecer. Ela ofereceu de ir ao mercado com ele enquanto eu dormia um pouco mais. Talvez eu devesse ter aceitado. Mas fiquei mal com essa possibilidade porque nao queria dar trabalho pra ela ja que sabia que ele iria ficar muito reclamao pois estava machucado e ainda pelo fato dela ter cuidado dele ontem a tarde inteira enquanto eu trabalhava. Ela levou ele pro trabalho dela pra ele conhecer uns amigos dela e conhecer o que ela faz. O lugar tem uns brinquedos que ele se divertiu bastante. Mas ela e minha parceira entao talvez realmente eu precisse compartilhar mais essa carga materna com ela. Ou nao? Eu nao sei bem o que cabe a ela ou nao. A gente namora ha 6 meses sob altos e baixos. Mas ela ja deixou claro que quer me ajudar no que puder quando estou com ele ou sem ele. 

No final das contas ficamos uns 20 minutos na cama e eu consegui sair do meu estado de breu. Fui acendendo aos pouquinhos todas as luzes do meu corpo e disse que ja estava bem pra sair. Acho que se L nao retornasse ao apartamento naquela ultima meia hora a crianca iria permanecer na tv por horas e eu ficaria afundada na cama como ja aconteceu muitas vezes.

Na parte na tarde tava combinado de L ir pra um churrasco de graduacao de uma amiga enquanto eu resolvi ficar em casa com o Ben porque tb queria rever uma amiga. Era a primeira vez que ela viria aqui em casa. Estamos meses sem nos ver. Ela chegaria as 3:00 e as 1:15 eu fui tirar um cochilo com meu filho. Botei o despertador pra meia hora antes dela chegar e achei merecido descansar. Pois bem, as 3:40 eu acordo assustada e vi que minha amiga tinha chegado e tinha me ligado varias vezes. Ela subiu ate minha porta, bateu bateu e eu, com sono e drenada do jeito que estava, nao escutei nada. Quando notei, tinha posto meu celular pra despertar as 2:30 da manha ao inves das 2:30 da tarde. Chorei.
Liguei e mandei msg pra minha amiga me desculpando. Ela levou na boa porque e uma pessoa de coracao gigante e sabe que tenho enfrentado perrengue com minha saude mental nos ultimos anos. Ela deixou na porta o lanche que trouxe pra compartilharmos e uns presentinhos que comprou pro meu filho. 

 O dia esta lindo la fora. Ensolarado. Esse sol vai ate umas 21:00. 
Meu filho esta sentado na frente da tv tem mais de uma hora e meia. Preparei um lanche da tarde pra gente e sentei no computador pra relatar isso tudo aqui. Nao sei bem o proposito mas me faz um bem danado escrever. Quando sei que to escrevendo pra mim mesma flui que e uma maravilha. Quando escrevo uma coisa mais elaborada demora eternidade. Eu devo ter medo do julgamento alheio, mas achando que nao. 

Encerro esse texto mais leve, como se tivesse transferido metade do peso da minha cabeca pra outro recipiente. Foi uma conquista ter conseguido escrever. Era uma coisa que tava na minha cabeca ha meses. Dessas coisas que a gente sabe que precisa fazer pra se ajudar a se curar e nunca acontece. Hoje tambem vou celebrar ter comecado a diminuir o cafe. Tomeu um como de 250 ml aprox pela manha, mas comprei um descafeinado e tomei pela tarde. Vou levar o descafeinado pro trabalho, que e onde tomo mais cafe durante o dia. 

Vou desligar a tv na crianca agora - pois ate nisso me sinto culpada - tendo estudado desenvolvimento infantil, a gente sabe do maleficio das telas, ne? Eu que o diga com o vicio de celular. Mais uma questao a trabalhar? Eu preciso de ajuda para descosturar todos esses mal habitos de mim, ou pelo menos achar um balanco mais saudavel. 

Vou tentar descer com o menino pra, pelo menos, pegar um ar fresco e por os pes na grama, antes de subirmos e comecarmos a rotina da noite (jantar, banho, livros, dormir). Geralmente isso demora qse 2 horas pra ser concluido.

Axe pros que ficam.

domingo, 28 de maio de 2017

The hours

"Mrs. Dollaway disse que ela própria iria comprar as flores."
Clarissa Dolloway esteve comigo há 9 anos atrás. Chegou até mim em Fevereiro de dois mil e oito, provavelmente resgatada de uma dessas casas empoeiradas de livros usados pelo centro do Rio. Hoje elas quase não existem mais. São dois romances de Virgínia Woolf em um só livro de capa dura. a segunda história nunca ousei começar, "Orlando". Um dia quem sabe. Orlando nunca fora lido mas já deu nome a um de meus pseudônimos (ou seria heterônimos?), devia ser porque me soava familiar a complexidade do nome. No ano seguinte, Clarissa esteve comigo outra vez, apesar de eu só me recordar da personagem no filme baseado na história, "The Hours", e não das suas verdadeiras minúcias deflagradas na escrita. O fato é que li dois anos seguidos a mesma narrativa e hoje me recordo de muito pouco, a não ser das expressões de Meryl Streep interpretando a senhora Dolloway, esta que saiu pela manhã a procura de flores. Minha memória é bastante fraca. Dói porque cresce a cada ano a sensação de auto-abandono. e auto-abandonar-se é não reconhecer-se. Não sei se isso é próprio da fase adulta em si, da velhice - que me é precoce ou não. Sei que é triste. e que há uma ininterrupta sensação de ignorância crescente, de esvaziamento que nada preenche. Mas resgato-me como posso. 
Hoje eu disse que eu mesma sairia para comprar as flores. e só compro flores quando me recordo de Clarissa Dollaway e desse primeiro trecho do romance. Estranho do porquê isso ficou. Algumas coisas a gente só entende com olfato, tato ou paladar.
Acontece que o aroma dos lírios que pus na janela embriagou o quarto por inteiro. O vento traz o cheiro doce numa curva certeira e parece que foi deus quem escolheu o posicionamento do arranjo. As vezes penso que esse cheiro que me vem é de morte, mas se for, é do cheiro da morte que meus sentidos precisavam se anestesiar, algo do tipo morrer-se toda para renascer-se toda. A normatividade da gramática que me perdoe e a licença poética que me salve. 
Então hoje, eis que fui salva sem pretensão de o ser. Fui salva. E sei disso porque me deu uma vontade repentina de escrever qualquer coisa como isso. Não me ocorria há anos. Não com essa paz. São três os lírios, metade meus metade de Clarissa: um aberto esbanjando beleza branca e branda, o segundo está aberto pela metade e o último ainda dorme, fechado. Rezo pra que desabrochem todos. e depois morram. Assim podem dar espaço a mais um domingo de mais um arranjo na janela do quarto, rosas amarelas quem sabe. Assim controlo o tempo que passa, the hours. Elas precisam passar. Vão passar.